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O Memorial do Convento, de Jos

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O Memorial do Convento, de Jos Saramago (1982) Apontamentos O espa o social autos de f autos de f (Rossio) Neste relato, s o de salientar os seguintes aspetos ... – PowerPoint PPT presentation

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Title: O Memorial do Convento, de Jos


1
O Memorial do Convento,de José Saramago (1982)
  • Apontamentos

2
apontamentos
3
Linguagem e estilo
  • Cada frase, ou discurso, ou o período, cria-se
    dentro de mim mais como uma fala do que como uma
    escrita. A possibilidade da espontaneidade, a
    possibilidade do discurso em linha reta, enfim, a
    direito, é muito maior do que se eu me colocasse
    na posição de quem escreve. No fundo, ao escrever
    estou colocado na posição de quem fala.
  • José Saramago, in Conversas, Mário Ventura, Publ.
    Dom Quixote, 1986

4
Linguagem e estilo
  • Uma das características mais notórias de José
    Saramago é a utilização peculiar da pontuação.
  • Principal marca nas passagens do discurso
    direto
  • eliminação do travessão e dos dois pontos
  • a substituição do ponto de interrogação e de
    outros sinais de pontuação pela vírgula
  • sendo o início de cada fala apenas assinalado
    pela maiúscula.

5
LER EM VOZ ALTA
  • "Por uma hora ficaram os dois sentados, sem
    falar. Apenas uma vez Baltasar se levantou para
    pôr alguma lenha na fogueira que esmorecia, e uma
    vez Blimunda espevitou o morrão da candeia que
    estava comendo a luz e então, sendo tanta a
    claridade, pôde Sete-Sóis dizer, Por que foi que
    perguntaste o meu nome, e Blimunda respondeu,
    Porque minha mãe o quis saber e queria que eu o
    soubesse, Como sabes, se com ela não pudeste
    falar, Sei que sei, não sei como sei, não faças
    perguntas a que não posso responder, faze como
    fizeste, vieste e não perguntaste porquê, E
    agora, Se não tens onde viver melhor, fica aqui,
    Hei-de ir para Mafra, tenho lá família, Mulher,
    Pais e uma irmã, Fica, enquanto não fores, será
    sempre tempo de partires, Por que queres tu que
    eu fique, Porque é preciso, Não é razão que me
    convença, Se não quiseres ficar, vai-te embora,
    não te posso obrigar, Não tenho forças que me
    levem daqui, deitaste-me um encanto, Não deitei
    tal, não disse uma palavra, não te toquei,
    Olhaste-me por dentro, Juro que nunca te olharei
    por dentro, Juras que não o farás e já o fizeste,
    Não sabes de que estás a falar, não te olhei por
    dentro, Se eu ficar, onde durmo, Comigo."
  • pág. 56

6
ação - estrutura
  • A obra está dividida em 25 capítulos, apesar de
    estes não estarem numerados ou titulados, que
    correspondem ao mesmo número de sequências
    narrativas na estrutura interna.

7
Narrador (quanto à participação)
  • Geralmente, é HETERODIEGÉTICO (surge na terceira
    pessoa e não participa na ação)
  • PORÉM, por vezes, assume o ponto de vista de
    algumas personagens (assumindo a primeira pessoa
    do singular e até do plural) HOMODIEGÉTICO
  • Isso acontece porque o narrador assume o
    pensamento de algumas personagens

8
NARRADOR (focalização)
  • Geralmente, o narrador assume uma focalização
    omnisciente
  • Tem uma perspetiva transcendente em relação às
    personagens e move-se à vontade no tempo,
    saltando facilmente entre passado, presente e
    futuro.

9
Focalização omnisciente
  • "Mas também não faltam lazeres, por isso, quando
    a comichão aperta, Baltasar pousa a cabeça no
    regaço de Blimunda e ela cata-lhe os bichos, que
    não é de espantar terem-nos os apaixonados e os
    construtores de aeronaves, se tal palavra já se
    diz nestas épocas, como se vai dizendo armistício
    em vez de pazes. " pág. 91
  • "Mas em Lisboa dirá o guarda-livros a el-rei,
    Saiba vossa majestade que na inauguração do
    convento de Mafra se gastaram, números redondos,
    duzentos mil cruzados, e el-rei respondeu, Põe na
    conta, disse-o porque ainda estamos no princípio
    da obra, um dia virá em que quereremos saber,
    Afinal, quanto terá custado aquilo, e ninguém
    dará satisfação dos dinheiros gastos, nem
    facturas, nem recibos, nem boletins de registo de
    importação, sem falar de mortes e sacrifícios,
    que esses são baratos. " pág. 138

10
Focalização interna
Outras vezes, o narrador assume momentaneamente a
perspetiva das personagens que vivem a ação,
conferindo mais vivacidade e verosimilhança à
narrativa.
11
EXEMPLO
  • "Grita o povinho furiosos impropérios aos
    condenados, guincham as mulheres debruçadas dos
    peitoris, alanzoam os frades, a procissão é uma
    serpente enorme que não cabe direita no Rossio e
    por isso se vai curvando e recurvando como se
    determinasse chegar a toda a parte ou oferecer o
    espetáculo edificante a toda a cidade, aquele que
    ali vai é Simeão de Oliveira e Sousa, sem mester
    nem benefício, mas que do Santo Ofício declarava
    ser qualificador, e sendo secular dizia missa,
    confessava e pregava, e ao mesmo, tempo que isto
    fazia proclamava ser herege e judeu, raro se viu
    confusão assim, (...) por toda a vida, e esta sou
    eu, Sebastiana Maria de Jesus, um quarto de
    cristã-nova, que tenho visões e revelações, mas
    disseram-me no tribunal que era fingimento, que
    ouço vozes do céu, mas explicaram-me que era
    demoníaco, que sei que posso ser santa como os
    santos o são, ou ainda melhor, pois não alcanço
    diferença entre mim e eles, mas repreenderam-me
    de que isso é presunção insuportável e orgulho
    monstruoso, desafio a Deus, aqui vou blasfema,
    herética, temerária, amordaçada para que não me
    ouçam as temeridades, as heresias e as
    blasfémias, condenada a ser açoitada em público
    e a oito anos de degredo no reino de Angola
    (...)
  • págs. 52-53

12
PERSONAGENS
  • D. JOÃO V
  • D. João V representa o poder real absolutista que
    condena uma nação a servir a sua religiosidade
    fanática e a sua vaidade.
  • Cumpridor dos seus deveres de marido e de rei, D.
    João V assume apenas o papel gerativo de um filho
    e de um convento, numa dimensão procriadora, da
    qual a intimidade e o amor se encontram ausentes.

13
PERSONAGENS D. JOÃO V
  • Amante dos prazeres humanos, a figura real é
    construída através do olhar crítico do narrador,
    de forma multifacetada
  • é o devoto fanático que submete um país inteiro
    ao cumprimento de uma promessa pessoal (a
    construção do convento, de modo a garantir a
    sucessão) e que assiste aos autos de fé
  • é o marido que não evidencia qualquer sentimento
    amoroso pela rainha, apresentando nesta relação
    uma faceta quase animalesca, enfatizado pela
    utilização de vocábulos que remetem para esta
    ideia (como a forma verbal" emprenhou" e o
    adjetivo "cobridor")

14
PERSONAGENS D. JOÃO V
  • é o megalómano que desvia as riquezas nacionais
    para manter uma corte dominado pelo luxo, pela
    corrupção e pelo excesso
  • é o rei vaidoso que se equipara o Deus nas suas
    relações com as religiosas é o curioso que se
    interessa pelas invenções do padre Bartolomeu de
    Gusmão

15
PERSONAGENS D. JOÃO V
  • é o esteta que convida Domenico Scarlatti a
    permanecer em Portugal
  • é o homem que teme a morte e que antecipa a sua
    imortalidade, através da sagração do convento no
    dia do seu quadragésimo primeiro aniversário.

16
PERSONAGENS
  • D. MARIA ANA JOSEFA
  • A rainha representa a mulher que só através do
    sonho se liberta da sua condição aristocrática
    para assumir a sua feminilidade.
  • D. Maria Ana é caracterizada como uma mulher
  • passiva,
  • insatisfeita,
  • que vive um casamento baseado na aparência, na
    sexualidade reprimida e num falso código ético,
    moral e religioso.

17
PERSONAGENS D. MARIA ANA JOSEFA
  • A transgressão onírica é a única expressão da
    rainha que sucumbe, posteriormente, ao sentimento
    de culpa. A pecaminosa atração incestuosa que
    sente por D. Francisco, seu cunhado, conduzem-na
    a uma busca constante de redenção através da
    oração e da confissão. - COMPLEXO DE CULPA.
  • A rainha vive num ambiente repressivo, cujas
    proibições regem a sua existência e para a qual
    não há fuga possível, a não ser através do sonho,
    onde pode explorar a sua sensualidade.
  • Consciente da virilidade e da infidelidade do
    marido (abundam os filhos bastardos), D. Maria
    Ana assume uma atitude de passividade e de
    infelicidade perante a vida.

18
PERSONAGENS
  • BALTASAR SETE-SÓIS
  • Baltasar Mateus é um dos membros do casal
    protagonista da narrativa.
  • Representa a crítica do narrador à desumanidade
    da guerra, uma vez que participa na Guerra da
    Sucessão (1704-1712) e, depois de perder a mão
    esquerda, é excluído do exército.

19
PERSONAGENS BALTASAR SETE-SÓIS
  • Construído enquanto arquétipo da condição humana,
    Baltasar Sete-Sóis é um homem pragmático e
    simples, que assume o papel de demiurgo na
    construção da passarola (ao realizar o sonho de
    Bartolomeu de Gusmão).
  • Participa na construção do convento e partilha,
    através do silêncio, a vida de Blimunda
    Sete-Luas. Sucumbe às mãos da Inquisição.

20
PERSONAGENS
  • BLIMUNDA SETE-LUAS
  • Blimunda é o segundo membro do casal protagonista
    da narrativa. Mulher sensual e inteligente,
    Blimunda vive sem subterfúgios, sem regras que a
    condicionem e escravizem.
  • Dotada de poderes invulgares, como a mãe, escolhe
    Baltasar para partilhar a sua vida, numa
    existência de amor pleno, de liberdade, sem
    compromissos e sem culpa.

21
PERSONAGENS BLIMUNDA SETE-LUAS
  • Blimunda representa o transcendente e a
    inquietação constante do ser humano em relação à
    morte, ao amor, ao pecado e à existência de Deus.
  • O seu dom particular (ecovisão) transfigura esta
    personagem, aproximando-a da espiritualidade da
    música de Scarlatti e do sonho de Bartolomeu de
    Gusmão.
  • Ao visualizar a essência dos que a rodeiam,
    Blimunda transgride os códigos existentes e
    perceciona a hipocrisia e a mentira.

22
PERSONAGENS
  • FREI BARTOLOMEU LOURENÇO DE GUSMÃO
  • O padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão representa
    as novas ideias que causavam estranheza na
    inculta sociedade portuguesa.
  • Estrangeirado, Bartolomeu de Gusmão tornou-se um
    alvo apetecido do chacota da corte e da
    Inquisição, apesar da proteção real.
  • Homem curioso e grande orador sacro (a sua fama
    aproxima-o do padre António Vieira).

23
PERSONAGENS BARTOLOMEU DE GUSMÃO
  • Bartolomeu de Gusmão evidenciou, ao longo da
    obra, uma profunda crise de fé, a que as leituras
    diversificadas e a postura "antidogmática" não
    serão alheios, numa busca incessante do saber.
  • A sua personagem risível - era conhecido por
    "Voador" - torna-o elemento catalisador do voo do
    passarola, conjuntamente com Baltasar e Blimunda.
  • A tríade corporiza o sonho e o empenho tornados
    realidade, a par da desgraça, também ela,
    partilhada (loucura e morte, em Toledo, de
    Bartolomeu de Gusmão, morte de Baltasar Sete-Sóis
    no auto de fé e solidão de Blimunda).

24
PERSONAGENS
  • DOMENICO SCARLATTI
  • Scarlatti representa a arte que,
  • aliada ao sonho,
  • permite a cura de Blimunda e possibilita a
    conclusão e o voo da passarola.

25
PERSONAGENS
  • O POVO

26
PERSONAGENS O POVO
  • O verdadeiro protagonista de Memorial do Convento
    é o povo trabalhador. Espoliado, rude, violento,
    o povo atravessa toda a narrativa, numa
    construção de figuras que, embora corporizadas
    por Baltasar e Blimunda, tipificam a massa
    coletiva e anónima que construiu, de facto, o
    convento.
  • A crítica e o olhar mordaz do narrador enfatizam
    a escravidão a que foram sujeitos quarenta mil
    portugueses, para alimentar o sonho de um rei
    megalómano ao qual se atribui a edificação do
    Convento de Mafra.

27
PERSONAGENS O POVO
  • A necessidade de individualizar personagens que
    representam a força motriz que erigiu o
    palácio-convento, sob um regime opressivo, é a
    verdadeira elegia de Saramago para todos aqueles
    que, embora ficcionais, traduzem a essência de
    ser português
  • GRANDES FEITOS, COM GRANDE ESFORÇO E CAPACIDADE
    DE SOFRIMENTO

28
Espaço
O espaço físico
  • São dois os espaços físicos nos quais se
    desenrola a ação Lisboa e Mafra.
  • Lisboa, enquanto macroespaço, integra outros
    espaços
  • TERREIRO DO PAÇO,
  • ROSSIO
  • E SÃO SEBASTIÃO DA PEDREIRA

29
Espaço físico
  • Terreiro do Paço
  • Local onde Baltasar trabalha num açougue, após a
    sua chegada a Lisboa. É onde decorre a procissão
    do Corpo de Deus.
  • Rossio
  • Este espaço aparece no início da obra como o
    local onde decorrem o auto de fé e a procissão da
    Quaresma ou dos penitentes.
  • S. Sebastião da Pedreira
  • Trata-se de um espaço relacionado com a passarola
    do padre Bartolomeu de Gusmão, ligada, assim, ao
    caráter mítico da máquina voadora. No época, S.
    Sebastião da Pedreira era um espaço rural, onde
    existiam várias quintas que integravam palacetes.

30
Espaço físico Mafra
  • Mafra é o segundo macroespaço. Até à construção
    do convento, a vida de Mafra decorria na vila
    velha e no antigo castelo, próximo da igreja de
    Sto. André.
  • A Vela foi o local escolhido para a construção do
    convento, que deu lugar à vila nova, à volta do
    edifício. Nas imediações da obra, surge a "Ilha
    da Madeira", onde começaram por se alojar dez mil
    trabalhadores, ascendendo, mais tarde, a quarenta
    mil.
  • Além de Mafra, são ainda referidos espaços como
    Pêro Pinheiro,
  • a serra do Barregudo, Monte Junto e Torres Vedras.

31
O espaço social
  • O espaço social
  • o espaço social é construído, na obra, através do
    relato de determinados momentos (ou episódios) e
    do percurso de personagens que tipificam um
    determinado grupo social, caracterizando-o.
  • Ao nível da construção do espaço social,
    destacam-se os seguintes momentos
  • PROCISSÃO DA QUARESMA
  • autos de fé
  • A TOURADA
  • PROCISSÃO DO CORPO DE DEUS
  • O TRABALHO NO CONVENTO

32
O espaço social Procissão da Quaresma
  • Procissão da Quaresma
  • excessos praticados durante o Entrudo (satisfação
    dos prazeres carnais) e brincadeiras
    carnavalescas - as pessoas comiam e bebiam
    demasiado, davam "umbigadas pelas esquinas",
    atiravam água à cara umas das outras, batiam nas
    mais desprevenidas, tocavam gaitas, espojavam-se
    nas ruas.
  • penitência física e mortificação da alma após os
    desregramentos durante o Entrudo (é tempo de
    "mortificar a alma para que o corpo finja
    arrepender-se)

33
O espaço social Procissão da Quaresma
  • descrição da procissão (os penitentes à cabeça,
    atrás dos frades, o bispo, as imagens nos
    andares, as confrarias e as irmandades)
  • manifestações de fé que tocavam a histeria (as
    pessoas arrastam-se pelo chão, arranham-se, puxam
    os cabelos, esbofeteiam-se) enquanto o bispo faz
    sinais da cruz e um acólito balança o incensório
    os penitentes recorrem à autoflagelação
  • o narrador afirma que, apesar da tentativa de
    purificação através do incenso, Lisboa permanecia
    uma cidade suja, caótica e as suas gentes eram
    dominadas pela hipocrisia de uma alma que,
    ironicamente, este define como "perfumada.

34
O espaço social autos de fé
  • autos de fé (Rossio) Neste relato, são de
    salientar os seguintes aspetos
  • o Rossio está novamente cheio de assistência a
    população está duplamente em festa, porque é
    domingo e porque vai assistir a um auto-defé
    (passaram dois anos após o último evento deste
    tipo)
  • o narrador revela a sua dificuldade em perceber
    se o povo gosta mais de autos de fé ou de
    touradas, evidenciando com esta afirmação a sua
    ironia crítica perante um povo que revela um
    gosto sanguinário e procura nas emoções fortes
    uma forma de preencher o vazio da sua existência

35
O espaço social autos de fé
  • a assistência feminina, à janela, exibe as suas
    toilettes, preocupa-se com pormenores fúteis
    relativos à sua aparência (a segurança dos
    sinaizinhos no rosto, a borbulha encoberta), e
    aproveita a ocasião para se entregar a jogos de
    sedução com os pretendentes que se passeiam em
    baixo
  • a proximidade da morte dos condenados constitui o
    motivo do ambiente de festa esta constatação
    suscita, mais uma vez, a crítica do narrador - na
    realidade, o facto de as pessoas saberem que
    alguns dos sentenciados iriam, em breve, arder
    nas fogueiras não as inibia de se refrescarem com
    água, limonada e talhadas de melancia e de se
    consolarem com tremoços, pinhões, tâmaras e
    queijadas

36
O espaço social autos de fé
  • sai a procissão - à frente os dominicanos
    depois, os inquisidores
  • distinção entre os vários sentenciados (através
    do gorro e sambenito), assim como o crucifixo de
    costas voltadas, para as mulheres que irão arder
    na fogueira
  • menção dos nomes de alguns dos condenados
    (inclusivamente,o de Sebastiana Maria de Jesus,
    mãe de Blimunda)
  • início da relação entre Baltasar e Blimunda
  • punição dos condenados pelo Santo Ofício - o povo
    dança em frente das fogueiras

37
O espaço social Tourada
38
O espaço social Tourada
  • Tourada (Terreiro do Paço)
  • o espetáculo começa e o narrador enfatiza a forma
    como os touros são torturados, exibindo o sangue,
    as feridas, as "tripas ao público que, em
    exaltação, se liberta de inibições ("os homens em
    delírio apalpam as mulheres delirantes, e elas
    esfregam-se por eles sem disfarce

39
O espaço social Tourada
  • dois toiros saem do curro e investem contra
    bonecos de barro colocados na praça de um saem
    coelhos que acabam por ser mortos pelos capinhas,
    de outro, pombas que acabam por ser apanhadas
    pela multidão
  • A ironia do narrador é ainda traduzida pela
    constatação de que, em Lisboa, as pessoas não
    estranham o cheiro a carne queimada,
    acrescentando ainda numa perspetiva crítica, que
    a morte dos judeus é positiva, pois os seus bens
    são deixados à Coroa.

40
O espaço social Procissão do Corpo de Deus
  • preparação da procissão
  • descrição dos "preparos da festa feita pelo
    narrador, que assume o olhar do povo (as colunas,
    as figuras, os medalhões, as ruas toldadas, os
    mastros enfeitados com seda e ouro, as janelas
    ornamentadas com cortinas e sanefas de damasco e
    franjas de ouro), que se sente maravilhado com a
    riqueza da decoração (uma reflexão do narrador
    leva-o a concluir que não se verificam muitos
    roubos durante a cerimónia, pois o povo teme os
    pretos que se encontram armados à porta das lojas
    e os quadrilheiros, que procederiam à prisão dos
    infratores)

41
O espaço social Procissão do Corpo de Deus
  • preparação da procissão
  • referência do narrador às damas que aparecem às
    janelas, exibindo penteados, rivalizando com as
    vizinhas e gritando motes
  • à noite, passam pessoas que tocam e dançam,
    improvisa-se uma tourada
  • de madrugada, reúnem-se aqueles que irão formar
    as alas da procissão, devidamente fardados

42
O espaço social Procissão do Corpo de Deus
  • realização da procissão
  • o evento começa logo de manhã cedo.
  • DESCRIÇÃO DO APARATO
  • à frente, as bandeiras dos ofícios da Casa dos
    Vinte e Quatro, em primeiro lugar a dos
    carpinteiros em honra a S. José atrás, a imagem
    de S. Jorge, os tambores, os trombeteiros, as
    irmandades, o estandarte do Santíssimo
    Sacramento, as comunidades (de S. Francisco,
    capuchinhos, carmelitas, dominicanos, entre
    outros) e o rei, atrás, segurando uma vara
    dourada, Cristo crucificado e cantores de hinos
    sacros

43
O espaço social Procissão do Corpo de Deus
  • CRÍTICA DO NARRADOR
  • crítica do narrador às crenças e interditos
    religiosos
  • visão oficial da procissão como forma de
    purificação das almas, que tentam libertar-se dos
    pecados cometidos

44
O espaço social Procissão do Corpo de Deus
  • CRÍTICA DO NARRADOR
  • Censura ao luxo da igreja e à luxúria do Rei
  • histeria coletiva das pessoas que se batem a si
    próprias e aos outros como manifestação da sua
    condição de pecadores

45
EM SÍNTESE
  • As procissões e os autos de fé caracterizam
    Lisboa como um espaço caótico, dominado por
    rituais religiosos cujo efeito exorcizante
    esconjura um mal momentâneo que motiva a
    exaltação absurda que envolve os habitantes.
  • A desmistificação dos dogmas e a crítica irónica
    do narrador ao
  • clero subjazem ao ideário marxista que condena a
    religião enquanto "ópio do povo", isto é,
    condena-se a visão redutora do mundo apresentada
    pela Igreja, que condiciona os comportamentos,
    manipula os sentimentos e conduz os fiéis a
    atitudes estereotipadas.
  • A violência das touradas ou dos autos de fé apraz
    ao povo que, obscuro e ignorante, se diverte
    sensualmente com as imagens de morte, esquecendo
    a miséria em que vive.

46
O TRABALHO NO CONVENTO
  • Mafra simboliza o espaço da servidão desumana a
    que D. João V sujeitou todos os seus súbditos
    para alimentar a sua vaidade.
  • Vivendo em condições deploráveis, os cerca de
    quarenta mil portugueses foram obrigados, à força
    de armas, o abandonar as suas casas e a erigir o
    convento para cumprir a promessa do seu rei e
    aumentar a sua glória.

47
Espaço psicológico
  • o espaço psicológico é constituído pelo conjunto
    de elementos que traduz a interioridade das
    personagens. Nesta obra, o espaço psicológico é
    constituído fundamentalmente através de dois
    processos os sonhos das personagens, que
    funcionam como forma de caracterização das mesmas
    ou que, num processo que lhes confere densidade
    humana, traduzem relações com as suas vivências
    e os seus pensamentos.

48
TEMPO
49
TEMPO O tempo diegético (tempo da história)
  • Trata-se do tempo em que decorre a ação.
  • O tempo da história é constituído por algumas
    datas fundamentais.
  • A ação inicia-se em 1711. D. João V ainda não
    fizera vinte e dois anos e D. Maria Ana Josefa
    chegara há mais de dois anos da Áustria.
  • O fluir do tempo, mais do que através da
    recorrência a marcos cronológicos específicos, é
    sugerido pelas transformações sofridas pelas
    personagens e por alguns espaços e objetos ao
    longo da obra.

50
TEMPO O tempo diegético (tempo da história)
  • O tempo histórico
  • Logo no início do romance, podemos inferir que a
    ação tem início no ano de 1711, através da
    seguinte referência do narrador
  • "(. ..) S. Francisco andava pelo mundo,
    precisamente há quinhentos anos, em mil duzentos
    e onze (. . .)"

51
TEMPO O tempo diegético (tempo da história)
  • Referências cronológicas
  • As referências cronológicas mais importantes são
    as seguintes
  • Em 1716, tem lugar a bênção da primeira pedra do
    Convento de Mafra
  • em 1717, Baltasar e Blimunda regressam a Lisboa
    para trabalhar na passarola do padre Bartolomeu
    de Gusmão
  • em 1719, celebra-se o casamento de D. José com
    Mariana Vitória e de Maria Bárbara com o príncipe
    D. Fernando (VI de Espanha)
  • em 1730, mais propriamente no dia 22 de outubro,
    o dia do quadragésimo primeiro aniversário do
    rei, realiza-se a sagração do Convento de Mafra
  • a ação termina em 1739, no momento em que
    Blimunda vê Baltasar a ser queimado em Lisboa,
    num auto de fé.

52
TEMPO O tempo diegético (tempo da história)
  • Muitas vezes, a passagem do tempo é anunciada por
    situações precisas "Para D. Maria Ana é que lhe
    vem chegando o tempo. A barriga não aguenta
    crescer mais por muito que a pele estique (.. .)"
    ou por referências temporais que se integram em
    marcações referenciais por exemplo
  • "() tendo partido daqui há vinte meses ()" p.
    72
  • "Meses inteiros se passaram desde então, o ano é
    já outro" p. 77
  • "Entretanto, nasceu o infante D. Pedro (...)" p.
    88
  • "Bartolomeu Lourenço foi à quinta de S. Sebastião
    da Pedreira, três anos inteiros haviam passado
    desde que partira (. .) p. 117
  • "(...) é certo que há seis anos que vivem como
    marido e mulher ()" p. 130
  • "(...) se não ficou dito já, sempre são seis anos
    de casos acontecidos () " p. 134
  • "() e já vão onze anos passados (...)" p. 162
  • "(...) passaram catorze anos () p. 214
  • "Desde que na vila de Mafra, já lá vão oito anos,
    foi lançada a primeira pedra da basílica ()" p.
    231

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TEMPO O tempo do discurso
  • O tempo do discurso é revelado através da forma
    como o narrador relata os acontecimentos. Este
    pode apresentá-los de forma linear, optar por
    retroceder no tempo em relação ao momento da
    narrativa em que se encontra ou antecipar
    situações.

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TEMPO O tempo do discurso
  • As analepses (recuos no tempo)
  • As analepses explicam, geralmente, acontecimentos
    anteriores, contribuindo para a coesão da
    narrativa.
  • É de assinalar, anteriormente ao ano do início da
    ação (1711 ), a analepse que explica, em parte, a
    construção do convento como consequência do
    desejo expresso, em 1624, pelos franciscanos, de
    possuírem um convento em Mafra.

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TEMPO O tempo do discurso
  • As prolepses (ações futuras)
  • A antecipação de alguns acontecimentos serve os
    seguintes objetivos
  • . a crítica social - é o caso das prolepses que
    dão a conhecer as mortes do sobrinho de Baltasar
    e do infante D. Pedro, de modo a estabelecer o
    contraste entre os dois funerais, ou a morte de
    Álvaro Diogo, que viria a cair de uma parede,
    durante a construção do convento, assim como a
    informação sobre os bastardos que o rei iria
    gerar, filhos das freiras que seduzia
  • . a visão globalizante de tempos distintos por
    parte do narrador (o tempo da história e, num
    tempo futuro, o do momento da escrita) - cabem
    aqui as referências aos cravos (outrora, nas
    pontas das varas dos capelães muito mais tarde,
    símbolos da revolução do 25 de Abril), a
    associação entre os possíveis voos da passarola e
    o facto de os homens terem ido à Lua, no século
    XX, a alusão ao tipo de diversões que se vivia no
    século XVII e ao cinema, entre outras
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